segunda-feira, 10 de setembro de 2012

#LCT - Grau de compreensão dos textos #4


Todos os textos surgem em nosso mundo em determinados contextos socioculturais, cujos conhecimentos são pré-requisitos para que você faça uma boa interpretação de qualquer texto escrito. O grau de compreensão dos textos varia de acordo com:
a) A faixa etária
Não se espera de uma criança de dez anos a compreensão de textos a respeito de legislação tributária. Há um processo de amadurecimento físico, intelectual e linguístico natural pelo qual a criança passa se estiver em um ambiente social adequado. Uma pessoa de trinta anos deveria ter um grau de compreensão mais madurecido do que uma criança de dez anos, pois sua experiência como leitor, teoricamente, deve ser maior. É válido lembrar que a desnutrição, ou subnutrição, pela qual passa um enorme número de crianças, traz-lhes consequências irreparáveis ao desenvolvimento físico e intelectual; a falta de condições de acesso à escola, bem como o estado precário em que se encontra a educação do país, além de outros fatores, apesar se parecerem alheios ao processo de amadurecimento da leitura da criança, são de vital importância.
“... coerência é algo que se estabelece na interlocução, na interação entre dois usuários (da Língua) numa dada situação. Possivelmente em função disso, Charolles – 1979:81 afirmou que a coerência (lógica textual) seria a qualidade que têm os textos pela qual os falantes reconhecem como bem formados, dentro do mundo possível...”. Diz ainda que a boa formação de um texto ocorre quando os falantes têm a possibilidade de “recuperarem o sentido de um texto”...”Recoloca-se, assim, a coerência como princípio de interpretabilidade, dependendo da capacidade dos usuários de recuperar os sentido, capacidade esta que pode ter limites variáveis para o mesmo usuário dependendo da situação ou para usuários diversos (diferentes), dependendo de vários fatores (como grau de conhecimento de um usuário sobre outro, grau de integração dos usuários entre si e/ou no assunto etc.)”.

b) Conhecimento do mundo
São todos os que nascem “do mundo”, em determinados contextos socioculturais. Quem nunca trabalhou ou estudou, não conhece os problemas vividos pelo estudante do período noturno, afinal, não passou pela experiência. Quem ainda não se casou, ou não teve nenhum relacionamento amoroso, não entende exatamente as consequências se uma separação, ainda que alguém muito próximo tenha passado por esta situação. É certo que ninguém conseguirá ou deverá vivenciar todas as experiências possíveis no mundo; sendo assim, a leitura e o convívio social entrarão na vida de uma pessoa para preencher as lacunas presentes em sua existência. Ainda que não se sejamos um menor abandonado pela sociedade e vivendo nas ruas, temos a consciência do problema em questão ao ler sobre ele.
Para compreender bem um texto, você não deve ser um leitor passivo, deve construir a sua leitura por meio do seu “conhecimento de mundo”. Um dos grandes nomes da educação no Brasil, o mestre Paulo Freire, afirmou que a “leitura do mundo” deve vir antes da leitura do texto escrito. Afinal, até as pessoas com pouca escolaridade sabem ler os fatos do mundo e interpretá-los.
Quando você não consegue ler um texto escrito, você não deve sentir-se inferiorizado perante as outras pessoas, pois pode ser que você ainda não leu o fato do mundo sobre o qual o texto escrito trata, ou seja, você não partilha (não viveu) o conhecimento que o escritor deseja transmitir. Leia o conceito presente no livro A Coerência Textual (de Ingedore G. Koch e Luiz Carlos Travaglia, 6.ed. São Paulo: Ed. Contexto, 1995, p. 31-32, coleção Repensando a Língua Portuguesa).
Exemplificando a teoria: se determinado autor escrever sobre a Teoria da Relatividade e você não tiver nenhum conhecimento dos princípios da Física, você não entenderá nada, pois o conhecimento não foi partilhado entre o autor e você; se você adquiriu conhecimentos básicos, entenderá um pouco; se você estudou a teoria de Albert Einstein, entenderá facilmente o texto. A sua compreensão seria parcial ou nula até mesmo de textos que tratam de costumes ou hábitos culturais (como rituais religiosos, cerimônias de casamento, o encontro com os amigos para o “pagode”, certas regras de etiqueta à mesa, procedimentos burocráticos de um processo judicial, crônicas esportivas) se você não estiver familiarizado com esses assuntos.
c) O grau de instrução formal ou da formação escolar

Geralmente, é na escola que se adquire o conhecimento orientado e organizado dos livros. Espera-se um maior preparo intelectual de um jovem universitário de que um jovem que parou seus estudos na quinta série do Ensino Fundamental, ainda que existam pessoas autodidatas, ou seja, que, por meio do esforço próprio, da intensa leitura e pesquisa, apresentam um grande domínio de muitas áreas do conhecimento humano.
d) O hábito da leitura

Quanto mais lemos, mais experiência nós adquirimos, desenvolvemos nosso potencial e melhoramos a nossa habilidade como leitor; afinal, leitura é prática. Apenas dessa forma é que conseguimos desenvolver o nosso conhecimento léxico, ou seja, ampliaremos nosso vocabulário de palavras conhecidas. Uma parte desse vocabulário é ativa, ou seja, utilizamos efetivamente em nossa vida cotidiana; a outra parte é passiva e virtual, pois sabemos o significado das palavras quando a lemos, mas não a utilizamos em nosso dia a dia. Além do léxico, desenvolvemos também outros domínios linguísticos, como diferentes formas de construção sintática, isto é, formas de combinar as palavras ou forma de construção de frases. Por isso, é importante lembrar que há péssimos leitores universitários.
Convém notar que não há textos isolados, e sim, a intertextualidade: um texto determinado dialoga com outros textos que já foram escritos sobre um mesmo tema, de forma direta, pela citação; ou indireta, pela semelhança ou retomada ao mesmo tema. Dificilmente, você encontrará um texto inteiramente original, sobre um assunto que ninguém ainda tenha escrito. A originalidade consiste no enfoque (ponto de vista ou abordagem do tema). Um texto é um acúmulo de outros textos. Daí também a importância da prática da leitura.


Continua...
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