Todos os textos surgem em nosso mundo em determinados
contextos socioculturais, cujos conhecimentos são pré-requisitos para que você
faça uma boa interpretação de qualquer texto escrito. O grau de compreensão dos
textos varia de acordo com:
a) A faixa etária
Não se espera de uma criança de dez anos a compreensão de
textos a respeito de legislação tributária. Há um processo de amadurecimento
físico, intelectual e linguístico natural pelo qual a criança passa se estiver
em um ambiente social adequado. Uma pessoa de trinta anos deveria ter um grau
de compreensão mais madurecido do que uma criança de dez anos, pois sua
experiência como leitor, teoricamente, deve ser maior. É válido lembrar que a
desnutrição, ou subnutrição, pela qual passa um enorme número de crianças,
traz-lhes consequências irreparáveis ao desenvolvimento físico e intelectual; a
falta de condições de acesso à escola, bem como o estado precário em que se
encontra a educação do país, além de outros fatores, apesar se parecerem
alheios ao processo de amadurecimento da leitura da criança, são de vital
importância.
“... coerência é algo que se estabelece na
interlocução, na interação entre dois usuários (da Língua) numa dada situação.
Possivelmente em função disso, Charolles – 1979:81 afirmou que a coerência
(lógica textual) seria a qualidade que têm os textos pela qual os falantes
reconhecem como bem formados, dentro do mundo possível...”. Diz ainda que a boa
formação de um texto ocorre quando os falantes têm a possibilidade de
“recuperarem o sentido de um texto”...”Recoloca-se, assim, a coerência como
princípio de interpretabilidade, dependendo da capacidade dos usuários de
recuperar os sentido, capacidade esta que pode ter limites variáveis para o
mesmo usuário dependendo da situação ou para usuários diversos (diferentes),
dependendo de vários fatores (como grau de conhecimento de um usuário sobre
outro, grau de integração dos usuários entre si e/ou no assunto etc.)”.
b) Conhecimento do mundo
São
todos os que nascem “do mundo”, em determinados contextos socioculturais. Quem
nunca trabalhou ou estudou, não conhece os problemas vividos pelo estudante do
período noturno, afinal, não passou pela experiência. Quem ainda não se casou,
ou não teve nenhum relacionamento amoroso, não entende exatamente as consequências
se uma separação, ainda que alguém muito próximo tenha passado por esta situação.
É certo que ninguém conseguirá ou deverá vivenciar todas as experiências
possíveis no mundo; sendo assim, a leitura e o convívio social entrarão na vida
de uma pessoa para preencher as lacunas presentes em sua existência. Ainda que
não se sejamos um menor abandonado pela sociedade e vivendo nas ruas, temos a
consciência do problema em questão ao ler sobre ele.
Para
compreender bem um texto, você não deve ser um leitor passivo, deve construir a
sua leitura por meio do seu “conhecimento de mundo”. Um dos grandes nomes da
educação no Brasil, o mestre Paulo Freire, afirmou que a “leitura do mundo”
deve vir antes da leitura do texto escrito. Afinal, até as pessoas com pouca
escolaridade sabem ler os fatos do mundo e interpretá-los.
Quando
você não consegue ler um texto escrito, você não deve sentir-se inferiorizado
perante as outras pessoas, pois pode ser que você ainda não leu o fato do mundo
sobre o qual o texto escrito trata, ou seja, você não partilha (não viveu) o
conhecimento que o escritor deseja transmitir. Leia o conceito presente no
livro A Coerência Textual (de
Ingedore G. Koch e Luiz Carlos Travaglia, 6.ed. São Paulo: Ed. Contexto, 1995,
p. 31-32, coleção Repensando a Língua Portuguesa).
Exemplificando
a teoria: se determinado autor escrever sobre a Teoria da Relatividade e você
não tiver nenhum conhecimento dos princípios da Física, você não entenderá
nada, pois o conhecimento não foi partilhado entre o autor e você; se você
adquiriu conhecimentos básicos, entenderá um pouco; se você estudou a teoria de
Albert Einstein, entenderá facilmente o texto. A sua compreensão seria parcial
ou nula até mesmo de textos que tratam de costumes ou hábitos culturais (como
rituais religiosos, cerimônias de casamento, o encontro com os amigos para o
“pagode”, certas regras de etiqueta à mesa, procedimentos burocráticos de um
processo judicial, crônicas esportivas) se você não estiver familiarizado com
esses assuntos.
c) O grau de instrução formal ou da
formação escolar
Geralmente,
é na escola que se adquire o conhecimento orientado e organizado dos livros.
Espera-se um maior preparo intelectual de um jovem universitário de que um
jovem que parou seus estudos na quinta série do Ensino Fundamental, ainda que
existam pessoas autodidatas, ou seja, que, por meio do esforço próprio, da
intensa leitura e pesquisa, apresentam um grande domínio de muitas áreas do
conhecimento humano.
d) O hábito da leitura
Quanto
mais lemos, mais experiência nós adquirimos, desenvolvemos nosso potencial e
melhoramos a nossa habilidade como leitor; afinal, leitura é prática. Apenas
dessa forma é que conseguimos desenvolver o nosso conhecimento léxico, ou seja, ampliaremos nosso
vocabulário de palavras conhecidas. Uma parte desse vocabulário é ativa, ou
seja, utilizamos efetivamente em nossa vida cotidiana; a outra parte é passiva
e virtual, pois sabemos o significado das palavras quando a lemos, mas não a
utilizamos em nosso dia a dia. Além do léxico, desenvolvemos também outros
domínios linguísticos, como diferentes formas de construção sintática, isto é,
formas de combinar as palavras ou forma de construção de frases. Por isso, é
importante lembrar que há péssimos leitores universitários.
Convém
notar que não há textos isolados, e sim, a intertextualidade: um texto
determinado dialoga com outros textos que já foram escritos sobre um mesmo
tema, de forma direta, pela citação; ou indireta, pela semelhança ou retomada
ao mesmo tema. Dificilmente, você encontrará um texto inteiramente original,
sobre um assunto que ninguém ainda tenha escrito. A originalidade consiste no
enfoque (ponto de vista ou abordagem do tema). Um texto é um acúmulo de outros
textos. Daí também a importância da prática da leitura.
Continua...
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