A estréia de Carlos Drummond de
Andrade foi em 1930 com a obra
Alguma Poesia
Carlos Drummond de Andrade é considerado um dos maiores representantes
da literatura brasileira do século XX.
Quando Drummond começou a publicar poemas, na década de 20, o
Brasil estava passando ainda pela fase inicial do abalo modernista, apesar de
datarem dos anos de 1890 as tentativas dos simbolistas de atualizar a sensibilidade
nacional. Gestos de renovação artística e literária
já eram perceptíveis no fim dos anos 10 (despontavam Anita Malfatti,
Villa-Lobos, Manuel Bandeira, Mário de Andrade), mas eram gestos isolados,
que só ganhariam momentum na Semana de Arte Moderna, realizada em São
Paulo, em 1922. A partir daí, o movimento se alastrou por grande parte
do país, como testemunham as revistas que se publicaram e os grupos que
se formaram um pouco por toda a parte. A esses "anos heróicos",
de implantação polêmica de novas atitudes culturais, sucedeu
um período de consolidação e diversificação,
em meio a agitado contexto social.
Sua estréia oficial deu-se em 1930, com
Alguma poesia. Com
esta obra, Drummond inaugura a segunda fase do Modernismo. Escreveu também
prosa que se caracteriza pela riqueza e expressividade da linguagem e do tema,
impregnados de senso de humor. Atribuem-se essas qualidades, igualmente, à
sua obra poética. Segundo Bosi, Drummond possui uma percepção
precisa do hiato entre as convenções e a realidade, entre o parecer
e o ser das coisas e dos indivíduos, o que se transforma em objeto privilegiado
do humor, seu traço principal. O conjunto de sua obra poética
é complexo e vasto, do qual, pela freqüência, é possível
destacar certas características e tendências
Sua carreira poética pode ser dividida em quatro fases. Cada uma delas
é composta por obras que nos permitem acompanhar a evolução
de seus temas e sua visão de mundo.
1ª fase: Eu maior que o mundo — marcada pela poesia irônica.
Esta fase (a fase gauche) tem como características o pessimismo,
o isolamento, o individualismo e a reflexão existencial. Nota-se nesta
fase um desencanto em relação ao mundo. Nesta fase, sem se deixar
envolver, o poeta mantém um certo distanciamento do mundo à sua
volta, o que lhe possibilita brincar e soltar a razão, deixando-a entregue
a si mesma, maquinando incertezas e certezas, mais afeitas a negar e anular
que a construir. Daí os temas do cotidiano, da família, do isolamento,
da monotonia entendiante das coisas e do viver, expressos numa linguagem coloquial
plena de ironia seca, sarcasmo e humor desencantado, onde sentimento e emoção
são refreados.
Obras características dessa fase:
Alguma
poesia,
Brejo
das almas e
Sentimento
do mundo, obra já considerada de transição para
a fase social.
2ª fase: Eu menor que o mundo — marcada pela poesia social.
Esta fase, chamada fase social, é marcada pela vontade do poeta
de participar e tentar transformar o mundo, o pessimismo e o isolamento da 1ª
fase é posto de lado. O poeta se solidariza com os problemas do mundo.
Nesta fase, sem se distanciar, deixa-se envolver pela realidade à sua
volta e canta a impotência e a solidão em um mundo mecânico,
frio e político; a decepção e a falta de perspectiva diante
da fragmentação causada pela guerra; o sofrimento e a solidariedade
do ser humano brasileiro e universal. Temas estes abordados em tons ora esperançosos,
ora desesperançosos, com a mesma ironia, humor e sobriedade.
Obras características dessa fase:
José
(1942) e
Rosa
do Povo (1945).
3ª fase: Eu igual ao mundo — abrange a poesia metafísica
e a objectual.
Poesia metafísica. Afastando-se da ótica sociológico-realista
e da representação social-concreta, o poeta volta-se para um simbolismo
abstrato. Seu lirismo filosófico reveste-se de um “classicismo
moderno”, em que o poeta concentra-se na escavação do real,
mediante um processo de interrogações e negações
que acabam revelando o vazio existencial. O mundo apresenta-se como “um
vácuo atormentado”, abolindo toda a crença e negando toda
a esperança possível.
Obras características dessa fase:
Novos poemas,
Claro
enigma,
Fazendeiro do ar e
A vida passada a limpo.
Poesia objetual. Representando uma ruptura em relação
à fase anterior, o poeta abandona a forma fixa, utilizando o verso que
tem apenas a medida e o impulso determinados pela coisa poética a exprimir.
Essa atitude lúdica, a opção concreto-formalista que o
poeta agora realiza é uma radicalização de processos estruturais
que sempre marcaram seu modo de escrever: a preferência pelo prosaico,
pelo irônico, pelo anti-retórico, pelo antilirismo intencional,
acrescido agora de uma exploração dos elementos materiais da palavra
(a letra impressa, o som, a disposição espacial).
Obra característica dessa fase:
Lição de coisas.
A fase final. Em suas últimas produções,
o lirismo de Drummond não assume uma tendência definida ou unidirecional.
O poeta reelabora alguns temas e formas dos primeiros livros, mas também
acrescenta algumas vertentes novas: a poesia de circunstância e o erotismo.
Como o próprio nome já diz, as obras desta fase (década
de 70 e 80), são cheias de recordações do poeta. Os temas
infância e família são retomados e aprofundados além
dos temas universais já discutidos anteriormente.
Obras características dessa fase:
Boitempo,
A falta que
ama,
Menino antigo,
Esquecer para lembrar,
A paixão
medida,
Corpo,
Amar se aprende amando,
Amor natural.
Sua obra, elaborada ao longo de mais de seis décadas, compreende, como
já visto, poesia e prosa. Apesar das qualidades e da quantidade da prosa
(17 livros de crônicas e contos, fora o que ficou nos jornais), o núcleo
de sua produção é a poesia. Drummond também escreveu
contos e crônicas:
Contos
de Aprendiz,
Passeios na Ilha,
Cadeira de balanço,
Os dias lindos.
Temas típicos da poesia de Drummond
- O Indivíduo: "um eu todo retorcido". O
eu lírico na poesia de Drummond é complicado, torturado, estilhaçado.
Vale ressaltar que o próprio autor já se definia no primeiro poema
de seu primeiro livro (
Alguma Poesia) como um gauche, ou seja, alguém
desajeitado, deslocado, tímido, posição que marca presença
em toda sua obra.
- A Terra Natal: a relação com o lugar de origem,
que o indivíduo deixa para se formar.
- A Família: o indivíduo interroga, sem alegria
e sem sentimentalismo, a estranha realidade familiar, a família que existe
nele próprio.
- Os Amigos: "cantar de amigos" (título que
parafraseia com as Cantigas de Amigo). Homenagens a figuras que o poeta admira,
próximas ou distantes, de Mário de Andrade a Manuel Bandeira,
de Machado de Assis a Charles Chaplin.
- O Choque Social: o espaço social onde se expressa
o indivíduo e as suas limitações face aos outros.
- O Amor: nada romântico ou sentimental, o amor em Drummond
é uma amarga forma de conhecimento dos outros e de si próprio
- A Poesia: o fazer poético aparece como reflexão
ao longo da sua poesia.
- Exercícios lúdicos, ou poemas-piada: jogos
com palavras, por vezes de aparente inocência naïf.
- A Existência: a questão de estar-no-mundo.
Fonte:
Passei Web
Enviado pelo Douglas